PBPI 03 - Autofagia Eclesiástica
AUTOFAGIA ECLESIÁSTICA

A próxima década será decisiva para a vocação ministerial em nossa Denominação e para a existência de nosso SETECEB e, por consequência, para a formação teológica pastoral.
Sem nenhuma pesquisa de campo, ainda assim podemos conjecturar alguns dados e compará-los com o passado recente, em especial de 2011 até 2020. Assim, teremos uma projeção para 2021 a 2030.
Vamos a um exercício matemático simples. Se pensarmos que formamos para o ministério pastoral, pelo SETECEB, ao menos 5 alunos por ano (aqui já descontei os vocacionados para missões e para educação cristã), teremos neste ano de 2020, fechando a década 2011-2020, um número de 50 novos candidatos ao pastorado na ICEB. É só uma estimativa. Se quiserem podem ser mais exatos e buscar o número junto à Instituição SETECEB.
Mas, temos que pensar nos formandos em CTM que vislumbram o pastoreio e os que se formam em outros Seminários, como em São Paulo, com a diversidade de cursos teológicos que se apresentam como alternativa para aqueles que não saem da capital paulista, mantendo suas atividades de trabalho e estudos, bem como mantendo a estrutura familiar. Aliás, de São Paulo e São José dos Campos, duas Regionais no Sudeste, no Estado de São Paulo, já não saem tantos vocacionados para o curso pastoral no SETECEB, nem por isso esgotou-se a vocação pastoral, absorvida pelos bons Seminários regionais.
Agora vamos responder a uma pergunta chave: abrimos 50 novas igrejas de 2011 a 2020 para atender, ao menos, os formados em teologia pastoral do SETECEB? (Se alguém perguntou o número exato ao SETECEB pode corrigir também o número de igrejas mantendo a equivalência.). A resposta é um sonoro NÃO.
Se voltarmos mais no tempo mantendo esta equivalência, de 2001 a 2020 seriam 100 formandos pelo SETECEB em teologia pastoral. Então, perguntamos: abrimos 100 novas igrejas neste período? De novo, NÃO.
Hoje somamos, mais ou menos, 290 igrejas/congregações, e a pergunta é: para onde foram todos estes formandos de SETECEB, CTM e outros Seminários? Respondo agora, mas vou antecipar uma outra pergunta: neste ritmo, como será, na próxima década 2021-2030, a absorção dos próximos formandos em teologia pastoral se não conseguimos abrir sequer 50 igrejas por década?
Então, vamos considerar algumas respostas possíveis à pergunta “para onde foram estes formandos”:
⦁ De 2001 a 2020, a maioria dos formandos em teologia pastoral foram absorvidos pelas igrejas já estabelecidas, aumentando o quadro de obreiros nas igrejas, atendendo assim a áreas de Educação Cristã (área historicamente preenchida por formandas em Educação Cristã). Também podem ter sido alocados em ministérios específicos, como: pastores de jovens, de adolescentes, da melhor idade, de música, de casais etc. Entretanto, quantas igrejas puderam fazer isso mantendo a remuneração dos obreiros dignamente?
⦁ Alguns voltaram para suas profissões seculares e são apenas colaboradores nas suas igrejas locais, sem remuneração e sem registro ministerial. Mas, será que esse era o projeto de suas vidas 4 anos antes?
⦁ Alguns simplesmente abandonaram a vocação pastoral e têm agora somente um curso teológico no currículo.
⦁ Será que alguns foram para outras denominações?
⦁ Tivemos alguns falecidos.
⦁ (Cabe aqui sua participação colaborando com alguma resposta).
Vamos considerar os argumentos 1 e 2 para discorrermos sobre o tema do artigo “autofagia eclesiástica”.
É sabido que há uma concentração ilógica de obreiros nas igrejas locais, ocupando liderança e conduzindo o rebanho, saturando o ministério leigo com lideranças acadêmicas, inibindo dons e retraindo a formação de líderes autóctones. Sim! “Profissionalizamos” a cadeira de líderes de áreas antes ocupadas por pessoas comuns, formadas na EBD, com seus talentos naturais e profissionais aprendidos na vida.
Este quadro já está saturado nas igrejas, pois as que podiam trazer mais obreiros já o fizeram. São poucas as igrejas grandes, com mais condição financeira, porém não conseguirão absorver mais 50 obreiros, no mínimo, na próxima década.
Vejamos os efeitos que se armam como uma bomba relógio pronta a ser detonada:
⦁ Autofagia eclesiástica.
⦁ Troca de obreiros antigos mais caros por obreiros novos mais baratos.
⦁ Aumento de obreiros na fila de espera.
⦁ Descontinuidade do CTM nas Regionais.
⦁ Desestímulo à vocação pastoral nas igrejas.
⦁ Escassez de líderes naturais formados nos bancos das igrejas.
⦁ Criação de nichos de pastoreio num mesmo rebanho.
⦁ Perda da Identidade Democrático-Representativa e crescimento de identidades episcopais e sinodais pela concentração de clérigos.
Estes são sinais que devem ligar o alerta amarelo da MEAN e MEARs, e levar a ações de conserto de rumo.
Dentre estes tópicos, vou me deter no primeiro, pois um ambiente que concentra grande quantidade de pessoas formadas academicamente para exercerem liderança pastoral é campo fértil para secções e comparações de estilo e de práticas de liderança. Dizem popularmente que quando há “muito cacique pra pouco índio” sempre o ambiente deteriora. Muitos com formação teológica num mesmo lugar é potencial para disputas e afinidades indevidas. A formação teológica pastoral é para ser exercida como liderança sobre o rebanho, o colegiado pode ser um argumento contra a coesão.
Não sou contra colegiados. Os que conseguem superar os obstáculos são muito bem-sucedidos. Só estou afirmando que a desvirtuação leva à autofagia, e essa à dissolução.
Somos chamados não para igrejas aumentadas ilimitadamente, mas para igrejas multiplicadas. Nenhuma igreja local deveria se encantar com um projeto para ser grande unicamente; talvez este seja o ¨canto da sereia¨ para as lideranças locais. Precisamos reler o texto bíblico e sermos sinceros em pontuar os princípios para a expansão do Evangelho. Nenhuma modernidade deve ser mais importante que os princípios bíblicos. Assim, veremos que igrejas como núcleos de convertidos brotavam como resultado de várias iniciativas dos próprios convertidos e só depois eram organizadas estruturalmente.
Não havia espaço para acúmulo de líderes e pastores, até porque este quadro de líderes sempre vinha como consequência de muitas conversões, como que puxados pelo crescimento exponencial do Evangelho nos corações das pessoas.